domingo, 7 de novembro de 2010


Em tempos de aparente aquecimento da economia é comum o consumidor realizar gastos desnecessários que podem levá-lo ao desequilíbrio financeiro

Nos últimos anos, observamos grandes mudanças na economia brasileira. Com a conquista da estabilidade e a retomada do crescimento econômico, o poder de compra aumentou exponencialmente. O padrão de consumo da classe média brasileira está diversificado. Atualmente, os consumidores têm colocado no carrinho de compras produtos supérfluos e uma variedade maior e mais sofisticada de bens duráveis. Diante deste cenário, faço uma pergunta: está tudo sob controle no orçamento doméstico? Nas décadas de 1980 e 1990, a inflação era o fantasma da família brasileira. Vivíamos em uma época de altos índices inflacionários. A angústia da dúvida de não saber se o salário seria suficiente para as despesas era aterrorizador. Agora, outro vilão entra em cena: a auto-inflação.
Ou seja, o consumidor infla seus gastos e produz sua própria inflação, praticamente um silencioso auto-flagelo. Até mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que a economia brasileira, que deve crescer mais de 5% este ano, pode enfrentar um superaquecimento – que resultaria em aumento da inflação. O Governo, por sua vez, vem fazendo o dever de casa e recuando nas políticas de estímulo ao consumo, como, por exemplo, a redução do IPI para carros, móveis e eletrodomésticos da linha branca, que não valem mais. Por outro lado, ainda presenciamos políticas agressivas na oferta de crédito a taxas de juros mais baixas, mas que ainda não podem ser consideradas baratas.
Neste contexto, podemos dizer que a inflação está muito mais atrelada ao relacionamento do consumidor com o dinheiro. Ao aplicarmos o conceito econômico da demanda à educação financeira, podemos mostrar que, se o consumidor não tiver cuidado, poderá ter inflação doméstica alta. Antes de aprofundar no tema, ressalto que não devemos concluir que a certeza sobre o futuro ou a capacidade de investimentos está relacionada somente aos sacrifícios de conforto. Nada disso. Contudo, é preciso fazer um planejamento de gastos para garantir melhoras no padrão de vida sem comprometer a capacidade de investimentos do consumidor. Vamos citar dois exemplos para explicar na prática como este processo funciona. O primeiro é o da demanda Inelástica, ou seja, quando a quantidade consumida de determinado bem permanece inalterada, não importando a trajetória do preço. O exemplo clássico é o do sal: se o produto estiver muito barato, dificilmente o consumo de sal aumentará por conta disso. O segundo exemplo é o da demanda Elástica. Ela se dá quando o preço é reduzido e o consumo é estimulado, mesmo que não seja necessário. A todo o momento, as redes varejistas lançam promoções relâmpagos, que incentivam a compra mesmo sem necessidade e ainda facilitam o pagamento. O consumidor desavisado entrega-se a tentação do consumo sem planejar o gasto ou o pagamento daquela nova dívida. Este cenário faz pensar que os consumidores estão “expostos” e “condicionados” por esta prática tentadora, que ditará os padrões de consumo e de poupança da população brasileira nos próximos anos. E isso não é bom. Não é apenas porque a parcela cabe no bolso que toda aquela divida se faz necessária ou apropriada para o momento do consumidor. Por isso, devemos estar preocupados com educação financeira, cuidando para que esta população não promova o movimento da auto-inflação, quando o crescimento da renda não acarreta necessariamente maior capacidade de poupar ou de estabilidade e segurança financeira. O que pode acontecer, nestes casos, é que, mesmo se a inflação oficial for igual a zero, o consumidor infla seus gastos e produz inflação própria.
Um planejamento deve ser feito em função de garantir melhoras no padrão de vida, impedindo que ele caia nas armadilhas do consumo fácil, ao mesmo tempo em que realiza seus desejos de compra. Devemos deixar para trás a memória inflacionária, que remete à necessidade de consumir rápido para garantir o poder de compra. Hoje, temos estabilidade e, para enriquecer, é preciso refinar a educação financeira, deixar de consumir o desnecessário para investir bem dentro de um planejamento financeiro pessoal, familiar e de vida.

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